Quando pensamos em estética, invariavelmente nossas mentes associam o termo ao belo, ao harmonioso, mas… uma beleza e harmonia relacionadas à forma , à plástica, àquilo que nos causa uma sensação visual agradável. Isto pode ser um problema quando nos damos conta de que vivemos imersos numa sociedade de consumo, que prima pela exploração intensa do sentido humano de maior alcance – a visão.
A instantaneidade e amplitude da visão inundam e iludem nosso ser de sensações, desencadeiam um mecanismo automático e involuntário de julgamento, disparam “vontades” e desejos, estimulam recordações, enfim…
O dicionário nos diz que estética vem de “esthese” que quer dizer sensação, algo relativo ao sensível e ficou sempre associada à sensação boa e agradável do belo.
Com isto no inconsciente, todos os dias nos “produzimos por fora” para criarmos uma imagem social aceitável, mantermos uma aparência compatível com o que o meio em que vivemos espera de nós – é a maquiagem…
Esta beleza, esta estética que queremos transpirar implica uma ligação estreita com o estado de saúde, e as questões relativas à saúde passam pelas formas de vida que construímos. A condição de saúde é determinante de uma existência plena, de satisfação, de prazer e regozijo, ao mesmo tempo em que a plenitude e a satisfação de uma existência prazerosa refletem um estado saudável. Sob este prisma, percebemos que a estética humana não é puramente da plástica, da forma; a estética humana é uma estética da existência.
O que vemos, hoje, é a busca enlouquecida de receitas, fórmulas mágicas, técnicas que garantam a beleza, a “saúde” e a longevidade. Para isto procura-se por medicamentos que aperfeiçoem o funcionamento físico e mental, faz-se cirurgias plásticas, coloca-se próteses modeladoras de um corpo “perfeito”. Ou então, nas academias, há uma submissão do corpo à exaustão de exercícios físicos numa espécie de culto sacrificial. Toma-se vitaminas, faz-se as mais estranhas dietas, busca-se os anti-oxidantes, tudo pela beleza e a “suposta” qualidade de vida.
Será que as coisas devem ser assim mesmo?
Contemplando a palavra estética, descubro nela um outro sentido: “a projeção da ética numa relação de tempo e espaço – ES – T – ÉTICA”. Tendo em conta que “ética” (do grego ethos) quer dizer “morada humana” (a casa do Ser Humano), e considerando que a primeira e mais imediata morada do humano é o próprio corpo, abre-se um viés muito interessante para a compreensão da relação de proximidade entre saúde e estética. “Ético é tudo aquilo que contribui para que a morada seja cada vez mais habitável, saudável, fisicamente sustentável, emocionalmente integrada e essencialmente fecunda” como nos diz Leonardo Boff. Se o corpo é nossa primeira morada, torná-la habitável implica ter saúde, implica que precisamos cuidar desta casa corporal, abrigo das demais instâncias humanas.
O “cuidar-se” deve ser consistente, pressupõe um “conhecer-se”, faz mesmo parte de uma construção que fazemos ao longo do viver. Não há a “pílula dourada” que muitas vezes insistimos em querer “comprar” e que o mundo consumista de hoje sempre tem uma nova versão a oferecer.
“Conhecer-se” para poder “cuidar-se”, o que inevitavelmente se refletiria numa relação de muito mais harmonia na vida em sociedade e com o planeta e sua natureza.
Não esqueçamos que a estética (esthese) passa pela sensação, algo corporal e que nos leva ao sentir, e não sentimos o que vemos, apenas nos impressionamos. O que de verdade sentimos não pode ser visto, apenas sentido. É isto a ilusão? Que armadilha!
“A ética no comando da vida”- este é um bom caminho para começar-se a entender o conceito da biocibernética bucal, pois ela se preocupa com o resgate do programa biológico humano que portamos individualmente. A existência também se compõe da manifestação deste programa, de como ele é cuidado, do quanto é possibilitado, de como é naturalmente respeitado para que a estética humana prevaleça. Tendo como parâmetro a individualidade, a biocibernética bucal nos proporciona a chance de, ao reconhecer-se em si mesmo toda a humanidade, viver-se a estética da própria beleza.
Elaboração :
Mauricio de Sá Malfate
Instituto bioaxis